quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Rockviews: VOODOO CIRCLE - More Than One Way Home


Por Leonardo Santos

Imagine se não houvesse existido a famigerada onda grunge nos anos 90 (se você gosta de Nirvana, não me amole!). Imagine, então, como seria se o Whitesnake não tivesse dado um tempo após o "Slip of the Tongue" e chamasse de volta John Sykes para o próximo álbum.
Bom, os integrantes do  Primal Fear  Alex Beyrodt e Mat Sinner definitivamente imaginaram. O resultado foi o fantástico terceiro álbum do Voodoo Circle:"More Than One Way Home". Riffs pesados com um pouco de blues, vocais poderosos, belas introduções de teclados e até mesmo os famosos "love" nos títulos estão presentes. Alex colocou um timbre muito parecido com o utilizado por Sykes nos solos e é como se David Readman batesse no peito e dissesse que pode fazer algo parecido com o que Coverdale fazia. E com a vantagem de que ainda podemos vê-lo fazendo isso ao vivo nos dias de hoje. Aliás,  é muito legal ouvir Readman utilizando todo o potencial da sua voz, fazendo aqueles graves pesados em melodias mais suaves e partindo para agudos agressivos quando surge todo o peso dos riffs. O tecladista Jimmy Kresic é de um bom gosto impressionante, fazendo introduções e linhas de teclado que lembram muito o bom e velho Jon Lord e Markus Kullmann cumpre muito bem seu papel. 

A excessão do álbum é "The Ghost In Your Heart", uma música claramente "Deep Purple", com timbre e solos sugados de forma descarada da guitarra de
Blackmore e um riff que não tem vergonha de lembrar "Perfect Strangers". 

No fim, "More than One Way Home" é um ótimo álbum, um sério candidato a melhores de 2013, com músicos experientes de primeira linha em momentos inspirados. Então faça um favor ao seu nariz: pare um pouco de respirar o mofo dos seus cds velhos do
Whitesnake e Rainbow (eu sei que são excelentes!), respire um pouco de ar fresco e dê uma chance para este aqui. Não há como se arrepender!





VOODOO CIRCLE
More Than One Way Home
© 2013 AFM Records  


Músicas
01 Graveyard City
02 Tears In The Rain
03 Heart Of Babylon
04 Cry For Love
05 Alissa
06 The Ghost In Your Heart
07 Bane Of My Existence
08 More Than One Way Home
09 The Killer In You
10 The Saint And The Sinner
11 Victim Of Love
12 Open Your Eyes
13 Shape Of Tings To Come
14 Castles Burn

 
Músicos
David Readman (vocais)
Alex Beyrodt (guitarra)
Mat Sinner (baixo)
Markus Kullmann (bateria)
Jimmy Kresic (teclados) 


Asssita aqui ao clipe oficial de "Cry for Love"


domingo, 24 de fevereiro de 2013

A árvore púrpura - Parte 1

Inspirado pela fantástica resenha e pela certeira indicação da última seção Rockviews, resolvi escrever sobre uma das árvores genealógicas mais interessantes e abrangentes do mundo rock: a família Purple.

Tudo começou pra mim com o clássico "Made in Europe", lá nos idos de setenta e tantos. Desde lá, sempre me interessei pelo Deep Purple e suas formações clássicas, ou nem tanto, bem como suas variadas e improváveis ramificações. Como são muitas, aqui vai a primeira parte...

Penso que podemos começar mencionando de onde vieram os componentes que integraram a formação conhecida como MK I e que gravou os primeiros registros como o Purple. Diz a lenda que o protótipo do que viria a se transformar numa das maiores bandas de rock já criadas, surgiu do sonho e imaginação de um certo doidão chamado Chris Curtis. Em meados de 1967, ele convenceu dois empresários locais, Tony Edwards e John Coletta, a financiarem e apoiarem uma ideia maluca de se formar um super grupo. Doidêras a parte, o que ficou claro pros caras foi a química que já surgia entre um certo tecladista chamado Jon Lord e um guitarrista esquisitão chamado Ritchie Blackmore. Lord vinha de várias bandas um tanto obscuras, a se destacar uma tal de Santa Barbara Machine Head (coincidência esse nome, não?) que tinha ninguém menos do que um magrelo Ron Wood nas guitarras. O mais preto também vinha de vários projetos e bandas sem expressão, como o Lord Sutch's The Roman Empire e por último, outra coincidência nos nomes, a alemã Mandrake Root. Pra fechar o line up, chegaram vindos do The Maze o baterista Ian Paice e o vocalista Rod Evans, e o experiente baixista Nick Simper fechava o quinteto vindo da banda Johnny Kidd & the Pirates. Com a formação estabilizada, trocaram o nome de Roundabout para Deep Purple, que era o nome de uma baladinha que a avó de Ritchie costumava cantar para ele. Três álbums foram registrados com essa formação que durou até julho de 69: "Shades of Deep Purple", "The Book of Taliesyn", e o homônimo "Deep Purple". Evans e Simper , depois de ganharem uma alforria não desejada, seguiram seus rumos, respectivamente, nas bandas Captain Beyond (com ex-integrantes do Iron Butterfly) e Warhorse.


Vindos do Episode Six, Ian Gillan nos vocais e Roger Glover nas quatro cordas, chegaram sorrateiramente e, com muita competência e talento, começaram a deixar sua marca no que para a maioria é "A" formação do Deep Purple. Depois de muito trabalho e um megalomaníaco projeto capitaneado por Lord conhecido como "Concerto for Group & Orchestra", o sucesso e reconhecimento veio finalmente com o agressivo "In Rock". Mas o famoso MK II  veio a ficar mundialmente conhecido com o clássico "Machine Head" que trazia "Highway Star", "Space Truckin'""Smoke on the Water", até os dias de hoje considerado o riff de guitarra mais reconhecido e tocado de todos os tempos. Numa turnê extremamente bem sucedida pela terra do sol nascente, alguns shows foram registrados e lançados no famoso e extremamente bem sucedido álbum "Made in Japan", um marco nos discos de gravações de shows ao vivo. Desgastes internos e exaustão causada por turnês incessantes foram os motivos alegados para que Gillan e Glover pulassem do barco em Julho de 1973, deixando ainda para os fãs os excelentes "Fireball " e "Who do we think we are?". Gillan se manteve recluso até o final de 1975 quando começou a Ian Gillan Band, que dentre algumas formações teve em seu cast nomes como John Gustafson (baixo) e Micky Lee Soule (bateria), além de contar com Glover em algumas participações e produções. Este, por sua vez, se embrenhou em projetos de produção como em álbuns do Nazareth e do ELF (a banda de Ronnie Dio pré-Rainbow), além do clássico projeto show-opera "The Butterfly Ball", até mais tarde ser recrutado por Blackmore para novamente comandar o baixo em futuras formações do Rainbow.





Aguardem em A árvore púrpura-  Parte 2: MK III e MK IV - cavalos alados, heroína e o primeiro fim !



Assistam aqui a uma performance histórica do MK II...



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Rockviews: Snakecharmer

Por Leonardo Santos

Ok, não é a primeira vez que Mr. Murray e Mr. Moody fazem isto. A mais de dez anos atrás, a dupla já havia se aproveitado do nome quando formaram o Company of Snakes. Bom, isto mostra que ainda levam em seus corações a época em que eram integrantes do Whitesnake ou que desejam, de leve, "pegar uma onda" na fama da banda de Coverdale. Você decide. O fato é que Micky Moody e Neil Murray reuniram músicos de peso e este álbum passa longe de ser somente um produto de oportunismo.

A começar pelo excelente vocalista Chris Ousey. Para quem não conhece, ele foi "frontman" da banda Heartland (ouça o álbum Heartland, de 1991!) e possui uma voz com timbre realmente diferenciado. Nos teclados está Adam Wakeman, filho daquele monstruoso tecladista virtuoso que de vez em quando brinca no meio metal (Ozzmosis!). Para completar a banda, temos Laurie Wisefield (Wishbone Ash) e Harry James (Thunder). 
Juntos eles fizeram um álbum de hard rock clássico, com doses de blues, não muito distante do estilo do Bad Company dos anos 70. Os solos e riffs cheios de "slide", como não poderiam deixar de ser, lembram muito o o Whitesnake pré "Slide it in" e as linhas de baixo de Neil Murray continuam muito bem elaboradas. Adam Wakeman, como o pai, sabe dosar muito bem o virtuosismo e completa os riffs com belos teclados, além de fazer ótimas introduções. 

Mas o que mais se destaca é mesmo o vocal de Ousey. Sua voz combina muito bem com o estilo do álbum, carregado de belas melodias, exigindo toda a sensibilidade de Chris. Um ponto negativo do álbum é a faixa de abertura, "My Angel", que não empolga como deveria. Talvez fosse melhor ter iniciado com "Turn of Screw", por exemplo. Afinal, a faixa de abertura deve se destacar, é o cartão de apresentação de um álbum.

No final, "Snakecharmer" não é  para quem busca riffs pesados e agressivos. É um álbum carregado de "feeling", com belos solos e melodias muito bonitas, fortemente indicado para aqueles apreciam o rock clássico cheio de blues com influência dos anos 70.





SNAKECHARMER
Snakecharmer
© 2013 Frontiers Records 


Músicas
1. My Angel
2. Accident Prone
3. To The Rescue
4. Falling Leaves
5. A Little Rock & Roll
6. Turn Of The Screw
7. Smoking Gun
8. Stand Up
9. Guilty As Charged
10. Nothing To Lose
11. Cover Me In You
12. White Boy Blues 
 


Chris Ousey (vocais)
Micky Moody (guitarra, backing vocals)
Laurie Wisefield (guitarra, backing vocals)
Neil Murray (baixo)
Harry James (bateria)
Adam Wakeman (Teclados)


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

The Last in Line

This is the first Musicabillia text in English. Original text posted on January 20th.

Last week I attended a beloved aunt’s funeral. Here in Brazil, funeral services are mostly like an opportunity to meet with relatives and folks you haven’t seen for a while. So, I sat away from from all that chatting and talking and started to wonder why we are so afraid of this ol’ bitch called Death. Truth is that, despite all theories about life after death, no one has returned to tell us what it’s like to be on the other side. Or even if there is another side. Where are we going? Who will we meet there? Is there really life after death?

Artists are sensitive people in general. Through mankind’s history, poets, authors, painters and composers have always shown us their interpretation of this infamous passage to another dimension, and have revealed the same doubts we still have today. In music it’s not different. And I don’t quote here the most obvious genre: heavy metal – the ugliest and loudest rock’s bastard - and yet one of the most venerated of all times. From Delta blues players through new wave gothics and post-punks, to the extreme and so-called death metal, the subject of death has been in every lyric and themes of music.

With all its crying and moaning, the Blues dealt with death and suffering as a punishment for mainly love and woman-related sins. By the end of the sixties, Jim Morrison opened the doors of his sanity with morbid poetry and painful speeches, taking abuse of LSD, heroin and any other substance that could could take him faster to meet his maker. In the early 70s, Ozzy Osbourne and Black Sabbath performed their sonic masses evoking death and supernatural matters, always guided by Tony Iommi’s dark and powerful riffs; the outrageous Alice Cooper saluted us with suggestive albums and song titles along with bloody stage performances; Zeppelin’s Jimmy Page and Robert Plant flirted with the occult, wizards and alchemy. Punks and post punks embedded in their aggressiveness and rebellion a great frustration with their lives, almost worshiping death as a logic consequence of their philosophy. But it was with that aforementioned heavy side of rock and roll, perpetuated since the early 80s, that this mysterious lady was quoted, mentioned, and honored with entire songs or even album titles. From Judas Priest’s razor-bladed guitar riffs, day-to-day themes and realistic lyrics, down to the dark and gloomy London alleys and their ghoulish characters portrayed by Iron Maiden. In Saxon’s leathered epic songs, Motorhead’s warlike contents, and even with Motley Crue’s  juvenile irresponsibility and their “Live fast Die fast” motto, Mrs. Death became the main theme to be played in world’s theatre of heavy metal. Since then, several others have started worshipping her: Megadeth, Slayer, Death Angel, Metallica and Death, only to name a few.

But no one managed to represent death in such an intelligent and subtle way as a guy named Ronald James Padavona, also known as “little big man” Ronnie James Dio. Since his first reign with Blackmore’s Rainbow , passing through Black Sabbath and holding out to his self-named band DIO, the Man on the silver mountain approached doubts, questions, the dualities of universe, life and death, presenting us with classics such as "A light in Black", "Rainbow in the dark", "Heaven and Hell", "The last in line", "Mystery" and "After All". Leading Heaven and Hell and still at the top of his career, Dio found himself as a mere mortal being - he faced the Dragon of his disease, stood up and shouted at death’s ugly mask until his last breath.
"Too many flames with too much too burn
And life's only made of paper..."  - Over and Over - Black Sabbath

I bet when you were a kid you used to draw skulls in your books, or hang up Eddie the Head posters on your bedroom wall. And I bet you proudly wore your favorite heavy metal t-shirts until they turned gray. Some time later, you probably felt lonely, abandoned, and confused in the abysses of life. You wanted to kill – or die - for a first love. And now, as a responsible grown-up, you still think about Mrs.Death and her mysterious ways.

Maybe that’s why she’s so popular. She’s always on the news. She’s famous, undeniable. Sneaky and tricky. And when she finally knocks on our door .. 
“We’ll know for the first time... if we’re evil or divine… We’re the last in line!"




As I was writing I listened to...
Judas Priest - "Killing Machine", "The Ripper";  Iron Maiden - "Killers", "Prowler", "Purgatory", "Hallowed be thy name", "Die with your boots On"; Saxon - "Crusader"; DIO - "The last in line", "Mystery", "Lock up the Wolves"; Black Sabbath - "Over and over"; Ozzy Osbourne - "See you on the other side".

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Carnaval, não me leve a mal...

Tá bom, eu admito!
Assisti alguns trechos do carnaval da Sapucaí na +Rede Globo. Fazer o quê?
Domingão a noite, "sem nada pra fazer...abro a janela e vejo o sol nascer"
Fiquei foi zapeando entre a cerimônia Grammy dos gringos e o carná brazuca. E na segundona, confesso, também vi a Estação Primeira entrando.

Já no desfile de domingo me deparo com uma menininha na bateria do Salgueiro, com um sorriso de "mamãe mandou eu fazer assim", sambando e repicando seu mini-ziriguidum pra todo mundo ver. Que dó!!
Lembrei de quando eu era criança pequena lá em Barbacena, e como odiava o carnaval.
Não sou lá das terras das rosas não, mas tive minhas experiências traumáticas com o tal, tanto aqui na capital, como no interior.
Em Três Pontas, terra do Bituca, uma vez presenciei um quase massacre num carnaval de rua, quando alguns cavalos de uma agremiação local, dispararam contra a platéia.
As matinês do Barroca Tênis Clube, em BH,  me deixavam arrepiado mesmo antes de chegar ao salão. Tortura medieval. Saquinho de plástico cheio de confete, serpentinas na mão, guerrinhas, empurra-empurra, rodinhas de pirralhos meio que sem saber o que estavam fazendo ali. Culpa dos pais!
Depois a gente cresce traumatizado, tem que fazer terapia, tomar tarja preta por causa daqueles pierrots, arlequins, colombinas, e mais de mil palhaços no salão.
Minha lembrança mais aterrorizadora era a hora que a bandinha começava a tocar "Máscara Negra". Apesar de seu título inspiradoramente heavy metal, musicalmente falando, a marchinha é uma das coisas mais sombrias que já ouvi até hoje:

"Foi bom te ver outra vez, está fazendo um ano,
Foi no carnaval que passou.
Eu sou aquele Pierrot que te abraçou e te beijou meu amor.
Na mesma máscara negra que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade..."

Filme de terror com requintes de crueldade era dez vezes melhor do que isso! Que melodia fúnebre! Socorro!!

Mais tarde e um pouco mais velho não foi diferente. Esse negócio de vestir de mulher, soltar o galináceo, deixar aflorar o lado feminino, num sei não. Nunca gostei disso. Uma vez em Cabo Frio, num bloco desses de marmanjos afetados, ou eu me transvestia ou então ia ter porrada. Eu tinha acabado de passar no vestibular e como mandava a tradição, estava de cabeça raspada. O mínimo que lucrei na época foi um apelido de "Piná", antiga musa careca e muito bronzeada da Beija-Flor... é mole?
O tempo passou e, graças aos deuses, hoje eu quero é rock!

No pouco tempo em que fiquei sintonizado na poderosa plim-plim conclui algumas coisas interessantes.
Carnaval  brasileiro realmente é a maior festa popular do mundo e gera muito dinheiro pro Rio de Janeiro, pro Brasil e pro jogo de bicho. Apesar de turbinadas, siliconizadas, e quase obesas, mulher brasileira ainda em primeiro lugar. Transmissão da Globo também é cultura - eu não sabia, por exemplo, que a Mona Lisa é um auto-retrato do seu criador, o Leozin que dá vinte. Tive até saudades do Galvão.
E pra finalizar, todo ano é a mesma coisa: carro alegórico pega fogo, neguinho despenca lá de cima e machuca, a velha guarda é sempre outra mais nova, e na apuração vai ter briga.
Déééeeeeeiiissss, nota dééisssss!!!!!!

Carnaval, vou é "deixar-te" agora, não me leve a mal... Ainda bem que acabou!
Brasil, vamos trabalhar?


Foto: Google Imagens

"Tudo que eu sei  Que era Carnaval 
No alto do morro "Cumendo" o maió pau 


Cade os marginal? É tudo animal 
Cade os policial? É tudo marginal          
Sai daêê ...Curujão!"
(Rio, Samba e Porrada no Morro - Overdose)



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Love is in the air... e ele é 3G!

Isso mesmo senhoras e senhores, raparigos e señoritas, pares, trios e casais de todas as formas: o amor está no ar!! O amor está no ar por todo lado que eu olho, e ele é 3G!!!

Dizem que um dos arquétipos do meu signo, o das ferroadas, é ser observador. Ando sempre pelas ruas atento ao que está se passando e tenho reparado nas caras e bocas dessa turma moderna. Com smartphones, iphones, tablets e outros em punho, vejo olhares felizes, risos largos e uma cumplicidade ímpar transmitidos pelas ondas invisíveis das bandas, nem tão largas assim, de nosso sistema de telefonia.
Encostados num poste, escondidos numa marquise, ou mesmo parados numa esquina, os amantes da nova geração estão felizes - afinal de contas brigar, discutir a relação ou implicar pelo teclado mobile dá muito trabalho. Muito mais fácil e muito melhor é mandar uma carinha feliz, postar uma foto apaixonada ou mudar o status para "em um relacionamento sério".

Nos bons tempos, além de cartas apaixonadas, flertadas inocentes e telefonemas demorados, um dos meus métodos preferidos era usar a música. Descobri que isso daria muito certo quando lá na antiga 5a série, emprestei com certa relutância meu vinil do Queen que tinha "aquela linda música de amor".
Uma semana depois, o "A Night at the Opera" voltou pra minha prateleira com um bilhetinho perfumado, escrito na mais linda caligrafia feminina. Indescritível!
Meado dos anos 80. No auge da minha adolescência-quase-vida adulta, o hard rock e o heavy metal  estavam em alta, assim como meus hormônios. Para a felicidade dos quase marmanjos e das mocinhas rockeiras, depois que Nikki Sixx e o Motley Crue lançaram a clássica "Home Sweet Home", tornou-se quase uma obrigação que todas as bandas e artistas de rock pesado tivessem em seus álbuns pelo menos uma balada. E justiça aqui seja feita: Scorpions, Def Leppard, Journey, e vários outros, já tinham lançado, muito antes, fantásticas canções em um andamento mais lento. Sem falar nos bad boys de Boston que, lá em 1973, já na abertura de seu homônimo álbum de estréia "Aerosmith", mandavam a belíssima "Dream On". As letras falavam de amor, paixões não correspondidas e dos infortúnios da vida em geral. Nessa nostálgica época minha, com certeza absoluta, a TDK e a BASF (pra quem não conhece, antigas multinacionais que produziam as longínquas fitas K7) ficaram mais ricas às minhas custas. Quantas fitas com coletâneas de baladas gravei tentando impressionar minhas pretendidas!
Vejamos aqui um exemplo fictício mas que na época pode muito bem ter acontecido:

Lado A
1- Always Somewhere - Scorpions
2- Bringin' on a Heartbreak - Def Leppard
3- Home Sweet Home - Motley Crue
4- I won't forget you - Poison
5- Never Say Goodbye - Bon Jovi
6- Angel - Aerosmith

Lado B
1- Open Arms - Journey
2- Still loving You - Scorpions
3- I Still love You - Kiss
4- Too late for Love - Def Leppard
5- Love of my Life - Queen
6- The Price - Twisted Sister

Depois, veio a segunda leva do hard rock, as conhecidas bandas hair metal e suas exageradas e também cativantes baladas: Winger, Cinderella, Tesla, Firehouse, Warrant, Skid Row, Extreme, só pra mencionar algumas. A era dos videos e da MTV. Nesse meio tempo, tivemos também a transformação do formato analógico para o digital, e a febre dos maravilhosos compact discs marcou outra época. Os disquinhos nos permitiam armazenar mais músicas e mais veladas declarações de amor podiam ser enviadas.
Depois veio o PC, a internet, o mp3 e o início do fim do amor musical como eu conheci.
Hoje, se perguntarmos para uma linda mulher, sertaneja que for, o nome de uma canção de amor preferida, é bem capaz que a resposta seja: "Ahh, não sei não. Acho que é a faixa oito no meu ipod." Elas e eles já não tem mais tempo. Muita coisa pra compartilhar, pouca coisa pra sentir e menos tempo ainda pra se expressar.

Outra característica dos das ferroadas: somos românticos inveterados. Acredito que ainda reste uma esperança pra esse povo moderno. É só reparar nas expressões de felicidade, quase insanas, que eles e elas fazem usando seus dispositivos móveis. Parados numa esquina, debaixo de uma marquise, ou encostados num poste. No ponto de ônibus, irracionalmente atravessando uma rua ou mesmo dentro dos carros, ilegalmente atrás dos volantes. O amor está no ar!
E como diria ainda John e Paul, "All we need is Love..."
Mesmo que seja em 3G!!


                                          "Love is in the Air" - John Paul Young
                                                       Fonte: Youtube

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Rockviews: Grand Design - Time Elevation & Idolizer

Por Leonardo Santos


Ao invés de fazer a resenha de um único álbum, como normalmente fazemos, resolvi fazer logo a resenha dos dois primeiros álbuns da banda Grand Design: Time Elevation (2009) e Idolizer (2011). Fiz isso porque acho que vale realmente a pena conhecer logo os dois e também porque, basicamente, seguem a mesma linha. 

Pelle Saether, produtor, vocalista e compositor, é um cara gente boa. Opa, espere um minuto, isso não vai me impedir de dizer umas boas verdades se for necessário!                      

Imagine como seria se o Def Leppard tivesse continuado a lançar grandes álbuns depois do Hysteria.  Bem legal, não? Pois esta parece ter sido a idéia do sueco Saether ao formar o Grand Design. Os riffs seguem a mesma linha do Def, o timbre do vocal parece bastante e, claro, os backing vocals extremamente bem trabalhados estão lá. Ouvindo "Air it out" (Time Elevation) você até consegue imaginar a estrutura da fantástica "Foolin". Isso não quer dizer que as músicas soem "datadas" nem que sejam cópias do que o Def já fez antes. A produção de Pelle é de primeira e o som totalmente atual (não confunda com rock modernoso, por favor). As melodias são ótimas, o som da bateria está perfeito e os riffs são cativantes. 

Time Elevation é realmente um álbum excelente, com uma grande variação nas músicas e melodias maravilhosas, sem realmente nenhuma música dispensável. Idolizer não atinge a excelência do anterior, mas ainda assim é um álbum muito bom, com diversão pura e descompromissada para você ouvir em uma sexta a noite (prefere Naldo, né?). 

A pergunta que fica é: precisamos de outro Def Leppard?  Bom, esta é uma pergunta muito pessoal e depende de cada um, mas digamos que se Joe Elliot tivesse continuado a seguir a linha dos fantásticos álbuns de outrora, eu diria que não, não precisaríamos.

Mas "let´s face it": Já faz uns bons 15 anos desde que o Def Leppard lançou algo realmente legal, então  por que não ter alguém que continue o trabalho? 






Time Elevation
© 2009 Metal Heaven 

Tracklist
1. Love Sensation
2. Slugged Out
3. Air It Out
4. Piece Of The Action
5. Sad Sound Of Goodbye
6. No Time For Love
7. Hello Mr. Heartache
8. Let’s Go Down Fighting
9. Sheik Iddup
10. Love Will Know 







Idolizer
© 2011 AOR Heaven


Tracklist
1. Get On With The Action
2. Change Me Up
3. OughtoGraugh
4. Your Love’s A Runaway
5. Stealin’ My Love
6. Let’s Rawk The Nite
7. Addiction For Love
8. Idolize Me
9. Rock Back To The 80s

10. You’re Gonna Dig On It 

GRAND DESIGN
Richard Holmgren: Bateria, backing vocals
Peter Ledin: Guitarra, backing vocals
Pelle Saether: Vocais
Dennis Vestman: Guitarra
Anders Mood: Baixo

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Onde há fumaça e fogo... bom senso!

Quando há trinta anos atrás começamos a sonhar com o que viria a ser o Overdose, umas das primeiras idéias e preocupações era com a parte visual da banda. Óbvio -  eu, +Claudio David e o Bozó éramos fãs de Kiss, até hoje, os reis do marketing visual e das pirotecnias. Os famosos "foguinhos" se tornaram, com o tempo, uma marca registrada em nossos shows e apresentações nos mais diversos palcos aqui do Brasil. Dentro de nossas limitações, tanto financeiras quanto criativas, nunca tivemos nenhum problema sério com relação aos efeitos especiais que usávamos. Graças a Deus?? Não... graças ao bom senso. Bom senso este que vem fazendo falta às pessoas em geral já há algum tempo.

Sempre admirei a seriedade e o profissionalismo dos gringos do primeiro mundo. Essa coisa da especialização, de fazer o melhor e ter a certeza do retorno e lucro garantidos seja em que área for.
E se tem uma coisa que eles fazem bem é entreter. Na indústria do entretenimento, se o sujeito é o responsável pelos efeitos especiais numa produção hollywoodiana, ele é dos bons. Se o cara é o responsável pela segurança em um evento, ele é mesmo. Se das autoridades locais de lá, se espera fiscalização e cumprimento das leis, você terá. Se um artista quiser usar em sua turnê, fogos e pirotecnias, o mesmo será fiscalizado, autorizado e responsabilizado se algo der errado.
Claro, "shit happens" e já tivemos alguns casos em que algo saiu muito errado. O caso do incêndio no show da banda de hard rock Great White (Rhode Island, 2003) é bem parecido com a recente tragédia de Santa Maria. Mais de cem mortos e, tanto a banda e empresários, quanto os proprietários e prestadores de serviço, responderam perante a Justiça norte-americana.
Na fria Montreal, em 1992, outro episódio famoso nos anais do hard rock teve ares de tragédia. Na então bombástica "Guns 'n Roses/Metallica Stadium Tour", ao pisar muito perto de uma pirotecnia, James Hetfield, guitarrista e vocalista do Metallica, acabou presenteado com severas queimaduras em seu braço esquerdo e a banda forçada a cancelar o restante do show. Após vários atrasos e decorrentes problemas técnicos, o Guns 'n Roses e seu polêmico frontman Axl Rose também resolveram cancelar sua apresentação. Resultado: a então já enfurecida platéia saiu do estádio queimando carros, saqueando lojas e causando tumulto pelas ruas da cidade.
E  os quatro cavaleiros Metallicos do apocalipse gostam mesmo de brincar com fogo. Minha amiga +Adriana Chiarini  fala do mico que pagou num show no dia 16 de setembro, 1996, em Paris, quando no meio do show dos caras "apareceu um fio tipo aqueles de alta tensão de filmes de cinema, bem no meio do palco, chicoteando e soltando faíscas para todo o lado. Parecia q ia pegar fogo em tudo."  Só muito tempo depois ela descobriu que era encenação e tudo não passava de uma grande brincadeira. Até pra fazer "pegadinha", tem que se ter seriedade, responsabilidade e competência.

Aqui na nossa terra do pau-brasil tudo é sempre exagerado. Nossas conquistas são as mais comemoradas, as mais sofridas, somos os melhores no futebol e somos os mais festeiros. Temos a melhor música, o carnaval, o frevo e a bossa nova. Somos campeões da alegria e da sacanagem. Mas também somos experts em dar de ombro e fingir que não é com a gente. Graduados em levar vantagem em tudo. Somos MBAs em falcatruas e jeitinhos. Mestres e doutores em corrupção. E nas tragédias, tudo se torna assustadoramente mais doído.
Como acontece sempre após uma tragédia da magnitude e repercussão que foi essa de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, agora é hora da caça às bruxas. Antes tarde do que nunca? Aceito, mas não concordo. É sempre depois. Reuniões das autoridades (in)competentes com acusações mútuas, centenas de fiscais batendo nas portas dos inferninhos, multas e autuações pipocando e enchendo os porquinhos públicos. Bares e casas noturnas sendo auto-fechadas.  Bom, não é?   Para os editores, repórteres e âncoras das poderosas, pode ser. Notícia e assunto pra mais de mês.
Mas o que precisamos realmente, é do tal do bom senso. Bom senso na hora de legislar e bom senso na hora de executar. Na hora de fiscalizar e na hora de cobrar. Na hora de noticiar e na hora de interpretar. Na hora de entreter e divertir, na hora de tocar, beber e (não)dirigir. Bom senso no cumprimento correto do trabalho e na profissão escolhida por cada um de nós.
Como músico prestador de serviço nas casas noturnas de Belo Horizonte não tenho problema algum em criticar ou elogiar meus empregadores. Nem de reportar ou denunciar. Alguns já devem estar perguntando "Pôxa, mas se a casa fechar, você não tem medo de perder sua boquinha?".
Não. Tenho bom senso.



Efeitos pirotécnicos num show do Overdose. Foto: Ricardo David - 1986



Confira abaixo, a partir dos 4:45, a "pegadinha" do Metallica