terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Rockviews: Pink Cream 69 - Ceremonial

Por Leonardo Santos

Para quem não está familiarizado (o que diabos você tem ouvido nos últimos anos???), o Pink Cream 69 é uma banda alemã já com mais de 20 anos de história. Foi formada em 1987 e tinha como frontman o pernóstico Andi Deris, que em 1994 deixou a banda para ser vocalista do Helloween. Para substituir Deris, entrou o britânico David Readman. Com um vocal muito mais versátil e técnico, Readman permitiu que a banda amadurecesse e evoluísse do hard/metal genérico da fase Deris para um hard rock que fugia do lugar comum das bandas de uma época ruim para o estilo. Mesmo quando utilizavam riffs bem conhecidos, quase clichês, a banda sempre criou melodias fantásticas e originais, conseguindo uma grande variação nas suas músicas. Electrified (1998) e Sonic Dynamite (2000), estão entre meus álbuns preferidos de hard rock dos últimos 15 anos e são obrigatórios para quem gosta do estilo. Até o Endangered (2001), a banda lançava um álbum a cada 1 ou 2 anos e tinha uma carreira sólida. A partir daí, entretanto, o baixista e produtor Dennis Ward ficou cada vez mais envolvido com inúmeros trabalhos para várias bandas de hard/metal. Entre as mais conhecidas bandas que tiveram álbuns produzidos por Dennis Ward estão Adagio, Angra, Allen/Lande, Eden's Curse, House of Lords, Jaded Heart, Place Vendome, Tesla e mais uma infinidade de outras! Daí você conclui qual é o trabalho principal de Ward e isso teve um efeito colateral: o Pink Cream começou a demorar mais de 3 anos para lançar um novo álbum e a banda deixou de ser o o foco dos outros membros, que também começaram a fazer outros trabalhos paralelos. O ótimo baterista Zafirou deixou a banda, enquanto Readman lançou carreira solo e um excelente álbum com o Voodoo Circle (vá ouvir este!).

Enfim, 6 anos após lançar o bom In10sity(um recorde para a banda!), eis que o Pink Cream 69 retorna com Ceremonial. Vejam bem, eu gosto muito da banda. Aliás, acho uma das melhores bandas de hard rock dos anos 2000, mas este álbum me causou certa decepção. Um lado bom de se esperar tanto tempo para lançar um álbum, é poder trabalhar a criatividade e não colocar músicas só para preencher (fillers). Com isso, apesar da  demora, o Pinck Cream lançava sempre álbuns muito bons, construindo uma carreira sólida e de identidade própria. Infelizmente, em Ceremonial eles partem para um rock mais "moderno" e fogem bastante do que já haviam feito antes. O álbum começa com uma verdadeira pedrada: Land of Confusion possui um dos riffs mais pesados que o Pinck Cream já colocou em suas músicas e um refrão espetacular. A partir daí o álbum vai caindo, com riffs mais "modernosos" e melodias insossas. É como se Ward de repente tivesse resolvido fazer algo diferente do que já haviam feito antes, mas se perdesse no caminho e tentasse voltar. Gostei bastante de Passage of Time, enquanto que Special e King for One Day são bem legais, mas o resto do álbum varia apenas do médio ao razoável e não empolga. Após 6 anos, eu esperava muito mais de uma banda que tem potencial muito maior.  

Portanto, se você não conhece o Pink Cream 69, não comece por este álbum. Pegue logo o Electrified e Sonic Dynamite e depois vá passeando pela discografia da banda. Se já conhece, é um álbum que vale sua audição, mas com certeza não está no nível dos últimos lançamentos da banda. Afinal, nota 7 não é para o Pink Cream.




PINK CREAM 69
Ceremonial

© 2013 Frontiers Records 
Tracklist
1. Land Of Confusion
2. Wasted Years
3. Special
4. Find Your Soul
5. The Tide
6. Big Machine
7. Let The Thunder Roll
8. Right From Wrong
9. Passage Of Time
10. I Came To Rock
11. King For One Day
12. Superman 
 
David Readman - vocais
Alfred Koffler - guitarra
Uwe Reitenauer - guitarra
Dennis Ward - baixo
Chris Schmidt - bateria



Agradecimentos especiais ao grande amigo e enciclopédia do hard rock Rodrigo Frigo, que além de me passar o álbum em primeira mão, me deu ótimas informações sobre a banda que utilizei nesta resenha.

sábado, 26 de janeiro de 2013

O holandês voador

Lendas são criadas para mitificar situações, lugares, seres ou pessoas. Assim, guerras, batalhas, castelos e cidades se tornam história. Mas as pessoas, estas se tornam deuses. Outras, já nascem deuses.
Acho que nem ele, nem o irmão, nem ninguém da família, imaginaria que, depois de cruzarem o Atlântico e se instalarem  na ensolarada Califórnia, o sobrenome Van Halen se tornaria o que se tornou hoje.
Sinônimo de deuses. Deus da guitarra. Gênio.

Como toda estória e lendas sobre gênios, a deles não poderia começar mais estranha. Alex queria tocar guitarra e Eddie, bateria. Como o último saía muito de casa pra entregar jornais na vizinhança, o irmão mais velho começou a fazer barulho com as baquetas. Ainda bem. A partir de então, a base e a fundação do que mais tarde viria a ser uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, estava solidificada.
Ficar aqui contando a estória do Van Halen como banda, é meio que chover no molhado. Muita coisa já foi dita e escrita, inventada, registrada e filmada sobre eles.
O que compartilho aqui é uma simples homenagem à genialidade de Eddie Van Halen como músico, compositor, performer, artista e pessoa que, como outra qualquer, tem seus defeitos, loucuras, qualidades, e seus altos e baixos.

Foi músico desde pequeno, influenciado pelos pais que também tocavam. Começou a experimentar sons muito cedo, fabricando sua própria guitarra com peças variadas que comprava em separado. Um corpo ali, o braço de cá, a parte elétrica, parafusos ...and let there be sound...
O monstro estava criado!  Let there be rock.
Em 1978, o impacto de seu som e estilo de tocar, vindos de sua criatura  frankenstrat, é algo até hoje meio que incomparável. Numa época em que o punk imperava na Inglaterra e invadia os apertados clubes das ruas da big apple, Eddie chamou pra si a responsabilidade de criar um estilo inovador e grandioso. Levou de volta aos palcos a alegria e a festa, e renovou o tal rock pesado da ensolarada cidade dos anjos.

Como compositor, suas obras são até hoje peças da mais pura arte. Qual guitarrista pós-Eddie nunca ouviu, se embasbacou, ouviu de novo, tentou tocar, se espantou e pensou em se aposentar ao ouvir "Eruption" ? Criador de riffs memoráveis e melodias transgressoras, o maluco não se contentava em compor só nas seis cordas. Em sua longa carreira no comando do Van Halen, que dura até os dias de hoje, compõe tão bem no teclado como na guitarra, e já chega aos ensaios e gravações com as idéias do quer para suas músicas. Ritmo, batidas, divisões de tempo, tudo. Gênio.

Além do guitarrista prima que sempre foi, Eddie também sempre foi um excelente performer. Juntamente com David Lee Roth, Sammy Hagar e mais tarde Gary Cherone - cada qual com seu estilo - conseguiu transformar as apresentações da banda num verdadeiro bacanal de sons, luzes e poses. No auge dos anos 80, participou de vários outros projetos, sendo o mais famoso, um solo característico, marcante e poderoso na empolgante "Beat It" de Michael Jackson. Anos mais tarde, perguntado numa matéria da revista especializada Guitar World como tinha sido o acerto pra fazer o tal solo, e, quanto ele tinha recebido pro trabalho, ele mandou: "Me chamaram e perguntaram se eu tava interessado em fazer. Passei no estúdio, ouvi a música, gostei e fiz o solo. Ficou até legal e aí eu fui embora. Foi isso."

Como pessoa comum, Eddie é assim. Desapegado e ao mesmo tempo ciumento. Mandão de manhã e o melhor amigo do mundo no fim do dia. O red rocker Sammy Hagar, em sua biografia "Red", cita trechos incríveis da convivência entre ambos. Bagunceiro, desorganizado, imprevisível, cruel...  "mas quando ele te abraçava e te pedia desculpas, não tinha como não gostar do cara..." .
Sempre teve um laço de amizade e uma ligação inquebrantável com seu irmão Alex Van Halen e dizem que, nas brigas e discussões entre os dois, a coisa chegava às vias de fato. Porradaria. E no outro dia, um six-pack de cerveja (pra cada um) selava a paz nas trincheiras holandesas. Coisa de irmãos.
Teve sérios problemas com o álcool e se internou em rehabs algumas vezes. Extirpou um câncer na língua, provável consequência do excesso de cigarros. Há pouco tempo, cancelou alguns shows da nova tour do Van Halen pra cuidar de uma diverticulite.
O rock sempre cobra seu preço. Principalmente dos gênios.

Obrigado Eddie por  "Panama", "Dreams", "Jump", "And the cradle will rock", "Right Now", "Jamie´s Cryin' ", "Runaround" e tantas outras.
Ouvindo suas canções, quantos de nós já não dançaram noite a dentro como se estivéssemos no topo do mundo, sem conseguir parar de amar aquela linda mulher. Quantos de nós não pulamos, não sonhamos e nos perguntamos se aquilo não poderia ser amor...
Parabéns holandês voador, por mais um ano de vida e música!!


Foto: Google

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Rockviews - Django Unchained


Por Leonardo Santos

Em primeiro lugar, caso você conheça o original "Western Spaghetti" de Sergio Corbucci, interpretado por Franco Nero, esqueça. O Django de Tarantino não é um "remake". Na verdade, tem pouco ou nada a ver com o antigo. A escolha do nome, aliás, me parece mais uma brincadeira e homenagem do diretor do que qualquer outra coisa. Afinal, se o filme se chamasse "John Wayne" faria quase tanto sentido quanto. Além disso, após tantos filmes, vou supor que você já está acostumado ao humor "mais que negro" de Quentin, bem perto do limite do doentio, e sabe apreciá-lo.  Caso contrário, ignore este filme e nem leia esta resenha. 

Para começar, o Django de Tarantino é interpretado por Jamie Foxx, o que o tem o efeito colateral óbvio de torná-lo negro. Calma, antes de me acusar de discriminar as pessoas pela cor da pele, deixe-me lembrá-lo de que o filme é passado no chamado "velho oeste" americano, onde existia a escravidão dos afro-decendentes, além de uma fortíssima discriminação. Django, aliás, é um escravo, que é libertado pelo caçador de recompensas de origem alemã Dr King Schultz (Christoph Waltz), com quem acaba fazendo um acordo para resgatar sua esposa, também escrava. A busca acaba levando os dois à "Candyland", uma enorme fazenda produtora de algodão de propriedade de um tirano mimado chamado Candie (Leonardo DiCaprio) apaixonado por lutas sangrentas entre escravos negros. 

Tarantino tem, entre os outros méritos, a capacidade de saber escolher muito bem o ator que interpreta cada personagem. Jamie Foxx tem o poder de fazer você acreditar em absolutamente qualquer coisa que ele diz ou faz. Waltz, que fez o militar nazista Cel. Hans Landa em Bastardos Inglórios, está novamente excelente fazendo... bem, fazendo de novo um "Hans Landa" de coração mais mole no velho oeste, com o mesmo senso de humor fino e elegante. E apesar de você ser um machão que odeia o jeito de estrela de "boys band" de DiCaprio, tente colocar de lado esta idéia e observe que ele realmente faz muito bem o papel de um senhor latifundiário que, desde sempre, esteve acostumado a acreditar que o mundo existe para servi-lo. Mas apesar de todas as ótimas interpretações, quem rouba a cena é mesmo Samuel L. Jackson. Jackson cria o originalíssimo Stephen, um negro de 75 anos que desde sempre viveu em Candyland e se tornou uma espécie de administrador bajulador, tradicionalista e extremamente preconceituoso em relação à sua propria etnia. Ele é, ao mesmo tempo, cruel, hilário, inteligente e extremamente carismático e, de repente, você passa quase a gostar de um dos sujeitos mais vis que já conheceu. Seu olhar malevolente é inquietante e simplesmente extraordinário. 

Neste filme, o singular senso de humor de Tanrantino é levado aos extremos. Mas sim, é uma fórmula já bem conhecida. Se você assitiu seus outros filmes, já sabe mais ou menos quando uma cabeça vai estourar como um melão, um braço vai voar, alguém vai explodir sem justificativa... este tipo de coisa. Com sempre, as cenas de violência são propositadamente exageradas, os corpos parecem odres jorrando vinho quando baleados. É um esquema que você já viu antes, mas ainda é divertido, muito divertido. Mas uma coisa, ao mesmo tempo interessante e assustadora, é que após ver o humor de Tarantino explorar a crueldade exarcebada com que os escravagistas tratam os negros no filme, você ainda pode pensar que aquilo realmente não deve estar longe da realidade. 
Existem vários momentos que mostram todo o talento do diretor, que traz um divertimento único para a audiência em cenas com sua direção original e impecável. Tarantino lida com a tensão e humor lado a lado de uma forma que ninguém mais no cinema consegue fazer. É como se o tempo inteiro ele quisesse atraí-lo para uma uma espécie de "pegadinha", para depois rir da cara que você fez. 

É um filme excelente, mas não perfeito, claro. Considerando todo o pleonasmo de dizer "na minha opinião" (afinal, se não fosse MINHA OPINIÃO não seria MINHA RESENHA!), Tarantino acaba caindo em uma armadilha comum em filmes muito longos: o final perde o clímax. Calma, não me apedreje, deixe-me explicar. É simplesmente como se o final chegasse naturalmente e o diretor insistisse em estender o filme um pouco mais, mas acaba perdendo o ápice, tenta voltar e não consegue recuperá-lo depois. Quase três horas de duração são um pouco demais. 
No fim, o filme traz toda aquela diversão sádica e quase sem sentido em uma dose muito maior do que Bastardos Inglórios jamais consegue fornecer e mostra, novamente, o melhor de Tarantino desde Pulp Fiction.  Simplesmente ótimo. 

Foto promocional


  1. Django 
  2. Ano de produção: 2012
  3. País: USA
  4. Tempo de filme: 165 mins
  5. Diretor: Quentin Tarantino
  6. Cast: Amber Tamblyn, Bruce Dern, Christoph Waltz, Don Johnson, James Russo, Jamie Foxx, Jonah Hill, Joseph Gordon-Levitt, Kerry Washington, Kurt Russell, Leonardo DiCaprio, Robert Carradine, Samuel L Jackson, Zoe Bell

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Foos & ' tallicas

Como rockeiro nato e consumidor de boa música, sempre fui fã de documentários e filmes sobre bandas e artistas do gênero. Desde a época do lançamento do desbravador "A hard day's night", passando pelo histórico "Woodstock" e o épico "The song remains the same", e chegando nos recentes "Rush - Beyond the lighted stage" e "God Bless Ozzy Osbourne", temos sido presenteados com filmes e estórias fantásticas sobre nossos artistas preferidos. 

Sou um cara que cresceu nos criativos e experimentais anos 70, e viveu intensamente os despretensiosos mas divertidos 80's. Essas duas décadas são as minhas preferidas. Confesso a todos que os anos 90 e a maioria das bandas que apareceram por lá não me agradam. Sempre torci minha naroga pra aqueles seattles de blusinhas xadrez. Os centenas de Maiden-genéricos que surgiram Europa afora tocando metal feliz também me deixavam com preguiça. E daquelas outras tantas bandas de pop-chupado dos Beatles que infestaram a terra da rainha, prefiro nem falar.
Mas, depois que assisti pela primeira vez o DVD "Skin and Bones" do Foo Fighters, minha opinião mudou - pelo menos com relação ao elétrico Dave Grohl e sua rapaziada. Mais tarde, com o sensacional documentário "Back and Forth", a reputação dos foos só aumentou para com minha pessoa.

Esse início de ano nas gringas, e esperamos, em muito breve por aqui, seremos brindados com "Sound City" - documentário escrito por Mark Monroe e comandado pelo Sr.Grohl em sua primeira incursão como diretor. Os estúdios Sound City foram um dos mais famosos da América, por onde ícones da música como Tom Petty, Rick Springfield, Johnny Cash, Fleetwood Mac, Rage Against the Machine, Nirvana, Ratt, e vários outros passaram, trabalharam, festejaram e registraram suas obras e álbuns mais famosos. Sem falar em históricos produtores como Rick Rubin, Beau Hill, Jimmy Iovine, Keith Olsen, que por lá deixaram suas marcas criativas e reforçaram suas competentes credenciais. Pela paixão e orgulho que Dave Grohl tem pela música, podemos esperar não só um sensível documentário que mostrará um pouco da história da música produzida em terras ianques, como também uma trilha sonora de altíssima qualidade, com monstros como Neil Young, Cheap Trick, Pat Benatar, NIN, além dos outros já citados. 
E pelo visto em trailers, ainda rolam canjas memoráveis entre Dave e alguns músicos participantes.


Foto: Google


Outro que chegará às telonas, provavelmente por volta de agosto no exterior, é a nova empreitada do Metallica, provisoriamente entitulada de"Through the Never". A película, que trará cenas em 3D, conta a história de um roadie, interpretado por Dane DeHaan (o Harry Osborn de "The Amazing Spider Man" ), enviado em uma missão de urgência enquanto a banda toca para uma arena lotada. Escrito e dirigido por Nimród Antal, o filme vinha sendo discutido e pré-produzido já há dois anos, o que nos deixa ainda mais na expectativa do que está por vir. A banda e os produtores anunciaram recentemente o acerto com a independente Picturehouse (afiliada da gigante Warner Bros.), para o lançamento e distribuição do filme - o que realça ainda mais o status cult-moderno que o projeto pode vir a ganhar. Uma das características de Hetfield & Cia é a inovação e a coragem de ousar em todos aspectos de sua já experiente carreira. 
Vai vir coisa boa......e eu aposto a bateria do Lars Ulrich nisso!


Foto: Google


No mais, agora é torcer muito para que a exibição de ambos os filmes no Brasil não seja feita da forma que foram os últimos shows e documentários de rock a aportarem por aqui, como por exemplo "Celebration Day" do Led Zeppelin. Aqui em Hellzonte, o filme-show esteve em poucas salas e em horários únicos - fato este que com certeza limitou sua bilheteria e deixou muitos a ver não navios, mas nesse caso, dirigíveis.


Foos  &  'tallicas  agradecem!



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ROCKVIEWS por Leonardo Santos


O Musicabillia abre espaço em suas linhas para quem quiser aprender um pouco mais sobre hard rock, AOR, e rock clássico com a coluna Rockviews comandada por Leonardo Santos. Já vou aproveitar e me atualizar aqui ouvindo o eterno "survivor" Jimi Jameson... (Fernando Pazzini)



Jimi Jameson - "Never too late"



"In the Burning Heaaaaaart!". 
Quando eu tinha uns 11 anos de idade e vi, pela primeira vez, o filme Rocky IV, esta música grudou de tal maneira na minha cabeça que eu fiquei, por um ano, repetindo seu refrão loucamente no chuveiro toda vez que ia tomar banho. As cenas de treinamento na neve,  a voz poderosa e a melodia empolgante formavam algo que fazia ferver a minha imaginação de quase adolescente. E depois, pude vibrar e dar ainda mais um socos no ar quando a música foi tema de mais uma propaganda do cigarro Holywood (engraçado que eu nem prestava atenção no fato de que eram propagandas de cigarro). Enfim, Jimi Jamison tem realmente um timbre único, um daqueles caras que nasceram com uma voz privilegiada, capaz de emocionar, sozinho, um estádio de futebol lotado. 

Eis que, quatro longos anos após lançar lançar o ótimo Crossroads (2008), em parceria com com o bom e velho Jim Peterik, Jimi Jamison volta com o maravilhoso álbum "Never Too Late". Desta vez sem o velho companheiro de Survivor, Jimi trabalha com Erick Martensson. Conhece este Martensson? Não? Pois devia conhecer. Seus trabalhos no Eclipse e W.E.T. (com Jeff Scott Soto) estão entre os bons lançamentos do hard rock nos últimos anos. Na minha opinião, Erick é um dos grandes guitarristas compositores do momento, faz riffs sensacionais e solos ao mesmo tempo técnicos e de muito bom gosto. O resultado deste trabalho é um excelente álbum de AOR, com melodias vocais maravilhosas e composições muito bonitas. Não existe uma única faixa que esteja ali somente para completar o álbum (filler), todas são realmente essenciais. É realmente emocionante ver que, após mais de 30 anos, o timbre da voz de Jamison continua intocado e não perdeu nada da sua força.

Never Too Late" é mais um dos motivos para que não fiquemos, eternamente, presos nos anos 80 pensando que não se faz mais músicas como antigamente.
Então pegue seu carro, coloque aquela namorada bonita do lado (ok, se não for possível, serve aquele amigo feioso mesmo), vá para a estrada, coloque este excelente álbum para tocar, tome cuidado com os limites de velocidade quando rolar "Bullet in the Gun" , e agradeça aos céus por caras como Jimi Jamison continuarem a trabalhar e criar coisas que conseguem, em um momento, jogar qualquer desânimo para longe da sua vida. 





Músicas:

1. Everybody’s Got A Broken Heart
2. The Great Unknown
3. Never Too Late
4. I Can’t Turn Back
5. Street Survivor
6. The Air That I Breathe
7. Not Tonight
8. Calling The Game
9. Bullet In The Gun
10. Heaven Call Your Name
11. Walk On (Wildest Dreams) 

 
Jimi Jamison (vocais)
Erik Martensson (guitarra solo, guitarra base, baixo, teclados, backing vocals)
Magnus Ulfstedt (bateria)
Jonas Öijvall (piano, sintetizador)
Magnus Henriksson (guitarra solo em Street Survivor e Heaven Call Your Name)


Por Leonardo Santos

domingo, 20 de janeiro de 2013

Os últimos da fila


Por causa do falecimento de uma tia querida, essa semana fiz um programa que há muito não fazia. Velório, cemitério, parentes, pessoas conhecidas e estranhos que não se encontram, exceto nessas horas.
Minha educação e meu pequeno conhecimento espiritualista me ensinam que velórios deveriam ser lugar de respeito, com mais reflexões e menos bate-papo. Procurando ficar mais no meu canto, me pus a pensar na famosa Dona Morte e o por que de nós, seres desse planetinha aqui, termos tanto medo dessa senhora. A verdade é que, apesar de diversas teorias sobre a danada, ninguém voltou pra contar como é que é lá do outro lado. Ou se pelo menos existe o outro lado. Ateus, crentes, católicos, espíritas, evangélicos, islâmicos, budistas...ninguém sabe ao certo o que esperar após a casquinha apodrecer e a pilha acabar. Por isso, acredito eu que, apesar da certeza que um dia ela vai bater na sua porta ou te mandar um SMS, ficam sempre as perguntas: Pra onde vamos? O que tem do outro lado? Quem vou encontrar?

Artistas em geral são pessoas de sensibilidade mais aguçada. Durante a história da humanidade, poetas, escritores, pintores e compositores sempre nos deram sua interpretação dessa infame passagem e, na grande maioria, sempre expressaram as mesmas dúvidas e temores que temos ainda hoje. 
Na música, desde os primórdios, e principalmente no rock, não é diferente.
E não falo aqui apenas do representante mais óbvio, o heavy metal - o filho bastardo, o mais feio e mais barulhento e ainda assim, um dos mais amados da prole do velhinho rock and roll. 
Desde os tempos do blues do Delta, passando pelos góticos e o new wave, e chegando até os extremos do death metal, a morte sempre esteve presente nas letras e temas de canções de várias referências e subdivisões do estilo.
O antepassado blues, com toda sua lamentação, tratava a morte e o sofrimento como uma punição para pecados cometidos, geralmente por causa de uma mulher ou um amor não correspondido. No final dos anos 60, o malucaço Jim Morrison escancarava as portas de sua sanidade com discursos de amores perdidos e mórbidas poesias, embalado por LSD, heroína, e tudo mais que o levasse mais depressa dessa para a melhor. No início dos anos 70, o Black Sabbath celebrava suas missas sonoras e invocava a morte e o sobrenatural, regados a sombrios riffs de guitarra; o fanfarrão Alice Cooper nos brindava com sanguinários shows e sugestivos títulos de álbuns e músicas ( "Killer", "Dead Babies", "I love the dead"); Page e Plant, do já consagrado Led Zeppelin, flertavam abertamente com o oculto, a alquimia e os magos. Os punks do final da década e os pós-punks do início dos anos 80, embutiam em sua revolta e rebeldia anti-sistema uma enorme frustração com a vida que levavam, quase que venerando a morte como consequência lógica de sua filosofia.

Mas foi com aquela já mencionada e pesada vertente do rock, perpetualizada a partir de 1980, que menções honrosas, citações, canções inteiras e títulos de álbuns homenagearam essa misteriosa e fascinante senhora. Nas guitarras cortantes e nas letras realistas do Judas Priest, nos escuros becos londrinos e nos personagens macabros retratados pelo Iron Maiden, nas épicas batalhas travadas pelo Saxon, e até na irresponsabilidade juvenil do "Live fast, Die fast" vindo do outro lado do Atlântico com os californianos do Motley Crue, a dona morte tornou-se o principal tema a ser encenado no teatro mundial do metal pesado. Dali pra frente, vários outros continuaram a venerá-la: Metallica, Slayer, Death Angel, Megadeth, Death, só pra citar alguns poucos.
Mas ninguém conseguiu retratar a morte de maneira tão sutil e inteligente do que um tal de Ronald James Padavona, um pequeno grande cara também conhecido como Ronnie James Dio
Desde seu reinado inicial no Rainbow, passando pelo Black Sabbath, e estendendo à sua homônima DIO, o homem da montanha prateada abordou as dúvidas, os questionamentos e dualidades existentes no universo, nos presenteando com pérolas como "A light in Black", "Rainbow in the dark", "Heaven and Hell", "The last in line", "Mystery", "After All", pra citar algumas. Liderando o Heaven and Hell e ainda no auge de sua carreira, descobriu-se um mero mortal, encarou frente a frente o dragão da enfermidade, lutou de pé e gritou na cara da morte até seu último suspiro.
"Too many flames with too much too burn
And life's only made of paper..."  - Over and Over - Black Sabbath

Quem de nós rockeiros, quando crianças perdidas, não desenhou um crânio em seu caderno , não colou um poster do  mascote Eddie em seu quarto e não se vestiu de preto ... Quem de nós, rockeiros ou não, nunca se sentiu no céu e no inferno da adolescência, não quis matar e morrer por um amor não correspondido... Quem de nós, acadêmicos adultos ou eternos beberrões, na calada da noite ou na correria do dia, nunca se perguntou, discutiu, ou se enlouqueceu pensando nela.
Por isso mesmo ela seja tão popular. Sempre nas notícias. Famosa, sorrateira, incontestável e certeira.
E quando ela chegar, aí sim. Vamos saber pela primeira vez se somos divinos ou se somos diabólicos. Nessa hora, nós somos os últimos da fila!

"We'll know for the first time
If we're evil or divine
We're the last in line" - The Last in Line - DIO




Trilha recomendada e utilizada na composição do texto:
Judas Priest - "Killing Machine", "The Ripper";  Iron Maiden - "Killers", "Prowler", "Purgatory", "Hallowed be thy name", "Die with your boots On"; Saxon - "Crusader"; DIO - "The last in line", "Mystery", "Lock up the Wolves"; Black Sabbath - "Over and over"; Ozzy Osbourne - "See you on the other side".

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Cadê?


Estava eu trocando umas idéias facebookianas com uma amiga outro dia, quando ela me alertou sobre um fato: cadê a rádio Rock de Belo Horizonte? 
Ela comentava que, de passagem por São Paulo, havia matado a saudade da excelente 89 FM.
E em BH? Cadê???
Que saudade dos anos 70 e 80, quando tínhamos várias e reais opções em nosso dial. Figuras importantes e de expressão no cenário da rádio difusão aqui em Minas comandavam e levantavam a bandeira do rock and roll com garra e disposição. O programa “O rock que a Terra não esqueceu”, comandado pelo caricato Get Crazy (hoje mais conhecido como a enciclopédia Adriano Falabella) foi um marco na estória musical de BH - ouvíamos desde os clássicos como Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple, até novidades gringas da época como TNT, Dokken, Anvil e outros. No geral, emissoras como a Rádio Terra, a saudosa Rádio Del ReyLiberdade FM e a Antena 1 nos seus primórdios, abriam pequeno mas imprescindível espaço para que a mineirada independente divulgasse seu trabalho. Com um jabazinho apropriado e um trabalho autoral no mínimo razoável, as bandas conseguiam certa divulgação, mesmo que na maioria das vezes apenas nos programas especializados. Isso porque já nessa época existiam por aqui representantes de várias vertentes do rock e do metal pesado, desde bandas de thrash e death metal, passando pelo hard e o heavy tradicional, chegando até a um rock mais comercial e acessível. Mesmo assim, não era raro de se ouvir na programação normal dessas emissoras grandes bandas locais como Serpente, Kamikaze e outras.
Não precisa ser muito inteligente nem muito observador pra ver que o rock está tendo um revival na brazuca. Engraçado foi outro dia, folheando uma dessas revistas que mulher gosta de ler, ver um ator global e uma modelo faz-tudo jurarem de pé junto em suas entrevistas que eram rockeiros desde pequenininhos. Nosso país já figura na rota das grandes turnês e shows internacionais dos artistas e representantes do estilo. Em nossas montanhas, uma infinidade de casas abrindo espaço pro estilo, moçada mais nova presente, caveirinhas nas blusas das moçoilas, e diversão garantida na pouco aclamada noite da capital. Os mais puristas vão contestar: “Poxa, mas só tem banda cover na praça!”. Tá bom, concordo, eu até toco em uma, e quer saber, é bom também! Sinto-me como um divulgador, um professor em uma missão musical didática de ensinar essa molecada, às vezes nem tão nova assim, o que é rock. E se talvez tivéssemos uma boa rádio especializada no assunto, as bandas com trabalho autoral se sentiriam mais encorajadas a pôr a cara à tapa, a lutar pelo som que fazem e acreditam. 
Hoje, temos ainda a facilidade e a comodidade de se poder ouvir, acessar e compartilhar música e informação na velocidade da rede. Com um clique do mouse ou um toque na tela do seu telefone espertinho, você consegue ouvir qualquer emissora de rádio em qualquer parte do mundo. 
Então por que não uma emissora local de rock and roll, esse estilo cinquentão, mas que a cada dia prova ser o mais popular de todos? 
Uma rádio em BH que divulgue, toque e informe sobre as músicas, os shows, e as novidades em geral, seria não só muito bem vinda e festejada por nós rockeiros, músicos e fãs, como seria também um resgate dos bons tempos das guitarras pesadas em nosso dia a dia.
Então, cadê nossa rádio de rock? Cadê?   
Fica aqui a dica...   


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Como tudo começou...

Desde muito novo, sempre gostei de música. Tenho várias e fortes lembranças musicais: a primeira "vitrolinha"; meus primeiros compactos simples dos Carpenters e do Wings; uma iniciação básica em MPB revirando os LPs das minhas tias; a "vitrolona" de tampa da casa da vovó; e um cabeludo primo de uma prima me aplicando Jethro, Led Zeppelin e Purple.
Mas essa lembrança é especial. Como comentei na postagem anterior, eu devia ter lá meus oito para nove anos. Estávamos em 1975 e nessa época não tínhamos TV colorida em casa. A reportagem do Fantástico era sobre um filme que contava a estória de um menino cego surdo e mudo, que jogava pinball e se tornava uma espécie de messias pop-star. As imagens eram em preto e branco, mas quando vi e ouvi aquilo tudo, cores, sons e sensações faiscaram minha mente. E na semana seguinte a esse fatídico domingo, lá estava eu com meus pais, mais precisamente um sábado de manhã, na saudosa Lojas Gomes no Centro de BH para procurar o disco.

Lançado originalmente em 1969, o álbum "Tommy" surpreendeu a todos pela ousadia. Townshend já dava provas concretas de sua genialidade como compositor, criando e introduzindo o termo "ópera-rock" na indústria musical. Mas no meu caso aqui, o discão que conheci primeiro, o que comprei, o que ouvi nem sei quantas vezes e decorei as letras dos encartes, foi a edição de 1975, o também LP duplo da trilha sonora original do filme.
Produzido por Robert Stigwood e dirigido pelo então novato diretor inglês Ken Russel, o filme tinha Roger Daltrey como protagonista, nomes de peso como Ann-Margret, Oliver Reed, Jack Nicholson, Tina Turner como a rainha do ácido, e ainda o mago do pinball Elton John.
Além de Daltrey e Townshend, a outra metade do The Who também estava presente - Keith Moon aparece como o hilário Uncle Ernie e John Entwistle dá o ar em poucas pontas, além de emprestar seus poderosos e característicos graves em algumas faixas. Para a gravação da trilha sonora, Townshend, que também viria a produzir o álbum, se cercou de experientes músicos de estúdio da época como Caleb Quaye, o recém-contratado "Stone" Ronnie Wood, Kenney Jones, Nicky Hopkins e até deus Clapton dava uma canja numa versão interessantíssima de "Eyesight to the Blind". Memoráveis ainda são as faixas "Amazing Journey", "I´m Free", "We´re not Gonna Take It" e claro, "Pinball Wizard", também lançada como single e gravada pela banda que acompanhava Elton John na época. Pra quem não conhece, vale ainda uma menção aqui da fantástica versão ao vivo de "Tommy" lançada na re-edição de 2001 em CD duplo do clássico The Who - "Live at Leeds".

Uma de minhas frustrações como rockeiro foi não ter visto o filme na tela grande quando alguns anos depois de lançado finalmente chegou por aqui. Apesar de na época ter tentado convencer o porteiro do Cine Regina que não importava se eu não tinha os 16 anos exigidos pela então Censura, usando argumentos de que eu conhecia TODAS as músicas e que o filme não tinha nada de mais, só fui assistir ao mesmo algum tempo depois quando reprisado na telinha pela Globo. Depois vieram versões em VHS, em CD duplo, DVDs, shows comemorativos...
A verdade é que foi lá em 1975 que tudo começou pra mim. De lá pra cá, óbvio que conheci muita coisa boa, ouvi muitos estilos e bati muita cabeça. Tive mais uma dezena de ídolos. Mas o gênio Pete Townshend e o maluco Elton John foram sim os responsáveis por eu ter escolhido o ROCK como estilo de vida.
E se alguém aqui achar que eu tô exagerando, que eu tô romantico demais...coloquem a versão de Sir Elton para "Pinball Wizard" num volume digno, e me digam ..."Tommy, can you hear me?".. Dava pra eu gostar de Axé?




domingo, 13 de janeiro de 2013

Intro

Nessa nossa vida louca vida, nada melhor e mais comum do que reativar uma idéia de blog nas férias. "Pô, mas você não trabaaaalha.... você é músico!" . Duro de ouvir isso, né?
Costumo dizer que meu cérebro musical não descansa nunca nem tira férias. Então, estamos aí com o Musicabilia, para trocar idéias, compartilhar, ouvir, ver, comprar, falar sobre música em geral!
Lógico que o rock será o mais abordado, pois desde que vi uma reportagem sobre a ópera-rock Tommy do +The Who e o senhor +Elton John atacava furiosamente sua máquina de pinball-teclado, minha vida nunca mais foi a mesma. Tinha uns oito pra nove anos na época e de lá pra cá muita água passou por debaixo da ponte, muita pedras rolaram. Algumas noites na ópera chegando em casa a dois minutos pra meia-noite. Sendo procurado vivou ou morto, quebrando todas as regras, me sentindo o rei da velocidade. Ouvi rock and roll a noite toda e festejei o dia inteiro. Me deparei com encruzilhadas e tive overdoses no caminho. Fui ao céu e ao inferno - que pensando bem, nem é um lugar muito ruim de se estar não. Achei potes de ouro no fim do arco-íris e conversei com homens sagrados. Mas não vou perder mais tempo...Aqui vou eu novamente!
E ainda bem que a canção continua sendo a mesma!!